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DECLARAÇÃO DO DIRECTOR-GERAL DA UAR SOBRE OS DESAFIOS E OPORTUNIDADES ENFRENTADOS PELA MÍDIA DE SERVIÇO PÚBLICO NA ÁFRICA E NA EUROPA

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Senhoras e Senhores,

Caros colegas,

Distintos convidados,

 

É uma grande honra para mim tomar a palavra neste espaço onde se cruzam os olhares de África e da Europa — dois continentes unidos pela história, pelas trocas, pelos sonhos e, hoje mais do que nunca, pela responsabilidade partilhada de garantir aos nossos povos uma informação livre, fiável e ao serviço do bem comum.

Os serviços públicos de comunicação, tanto em África como na Europa, são as sentinelas da democracia. Iluminam consciências, constroem coesão e recordam a todos que a verdade não deve nunca ser um luxo, mas sim um direito fundamental.

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Mas se o sol nasce todas as manhãs sobre as nossas antenas, ele também ilumina os nossos desafios. Em África, o jornalista do serviço público avança muitas vezes entre as gotas da chuva e o pó do vento, em condições precárias, com meios técnicos limitados — mas com uma paixão infinita.

E, no entanto, que força de espírito! Que criatividade!Em Yaoundé, a CRTV transmite programas educativos em várias línguas para aproximar culturas.

Em Abidjan, a RTI cria novos formatos para os jovens, combinando inovação digital e identidade africana.

Em Joanesburgo, a SABC luta para manter a sua independência, reinventando ao mesmo tempo a relação com um público exigente e conectado.

E em Nairóbi, a KBC explora a convergência entre rádio, televisão e plataformas digitais, para que cada cidadão — do bairro de lata à savana — se sinta incluído na conversa nacional.

Essas experiências contam uma verdade: o serviço público africano de comunicação está vivo. Permanece de pé, muitas vezes sob tempestade, mas com o microfone sempre estendido ao povo.

Os nossos desafios são múltiplos. São, antes de tudo, económicos.

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Com frequência, os meios públicos africanos sobrevivem com financiamentos incertos. A taxa audiovisual, quando existe, é insuficiente; as receitas publicitárias diminuem; e os orçamentos estatais dividem-se entre mil urgências.

Mas um meio público não se alimenta apenas de dinheiro: alimenta-se de confiança.

E aí está o nosso segundo desafio: a independência editorial.

Como ser a voz do povo sem se tornar o eco do poder?

Como servir a nação sem se submeter à política do momento?

 

Este dilema, todos o conhecemos.

E, no entanto, todos os dias, redações africanas provam que é possível conjugar lealdade e liberdade, serviço público e coragem jornalística.

 

Penso na ORTM, no Mali, que manteve a continuidade do serviço público mesmo nas horas mais sombrias da instabilidade.

Penso na Rádio Ruanda, que soube reinventar-se depois do indizível, tornando-se um símbolo de reconciliação nacional.

Penso na SNRT, em Marrocos, que abraçou a transformação digital sem renegar a sua identidade cultural.

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Os nossos desafios são também tecnológicos.

A África é vasta, e a sua rede ainda desigual. Em certas aldeias, a rádio continua a ser a única janela aberta para o mundo.

Mas isso também é uma força: essa rádio comunitária, sustentada por vozes familiares, continua a educar, alertar e unir.

 

E há ainda outro desafio — o do conteúdo.

Num momento em que as plataformas globais inundam os nossos ecrãs, é urgente contarmos as nossas próprias histórias, com as nossas palavras, emoções e ritmos.

Devemos defender a soberania das nossas narrativas, pois, se não contarmos a África, outros o farão em nosso lugar — e, muitas vezes, de outra forma.

 

Diante desses desafios, a África não espera piedade — propõe parceria.

A UAR (União Africana de Radiodifusão) reúne hoje mais de 85 membros em África e além, unidos numa rede de cooperação sem equivalente.

Através da nossa plataforma AUBVision, partilhamos diariamente conteúdos africanos através das fronteiras, ligando Dacar a Adis Abeba, Argel a Lusaca, Abuja a Antananarivo.

 

Mas a ação da UAR não se limita a isso.

Desempenha um papel central na formação e capacitação dos profissionais africanos dos media;

favorece a criação de parcerias produtivas com instituições internacionais e com o setor privado;

acompanha os meios públicos de comunicação numa reflexão comum sobre os desafios digitais, financeiros e éticos do nosso tempo;

e, sobretudo, contribui para o despertar da consciência mediática, para que os nossos jornalistas continuem a ser construtores de sentido e artesãos da paz.

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A nossa ambição é simples: que cada africano possa ver o seu continente tal como ele é — forte, plural, vibrante e livre.

 

E é aqui que a Europa e a África se encontram.

Porque os nossos desafios são semelhantes: desinformação, perda de confiança do público, crise do modelo económico e mutação digital acelerada.

Mas as nossas respostas podem enriquecer-se mutuamente.

A África pode aprender com os modelos europeus de governação, financiamento e arquivo;

e a Europa pode inspirar-se na resiliência, criatividade e fé no coletivo que animam as nossas redações africanas.

 

É dessa reciprocidade que nascerá um novo humanismo mediático —

um mundo onde o serviço público volte a ser um serviço do povo, pelo povo e para o povo.

Quando um griot africano conta uma história, ele não procura apenas informar — procura reunir.

E é essa, no fundo, a missão primordial do serviço público de comunicação, seja na Europa ou em África.

 

Por isso, mantenhamos as nossas antenas abertas como braços estendidos.

Que as nossas câmaras continuem a procurar a luz, mesmo quando o mundo parece escuro.

E que as nossas vozes, unidas na diversidade, levem longe a mensagem de uma humanidade que se recusa ao silêncio.

 

Muito obrigado.

 
 
 
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